quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A Recuperação pelo Sofrimento


Longe de mim ficar batendo sempre na mesma tecla (mentira; eu praticamente vivo sentado nela. Relevem), mas as convulsões econômicas que começaram em 2008 ainda não tem data para terminar. Aliás, as medidas oficiais tomadas pelos países mais afetados parecem feitas sob medida para garantir que o ciclo de catástrofes se repita; arrochar a maior parte da população e expandir o poder dos bancos e do setor financeiro.

O receituário oficial é tristemente familiar para nós brasileiros: os países afetados devem arrochar salários, diminuir ou extinguir programas sociais e previdência, privatizar o que é público e manter os bancos à tona custe o que custar. Para os mesquinhos, seria até uma satisfação ver países desenvolvidos tendo que fazer a mesma dança da chuva que nós, patetas sulamericanos, tivemos que repetir tantas vezes no século passado. Mas a desgraça alheia não nos enriquece, e o próprio fato desta ortodoxia econômica ainda existir e exigir respeito nos empobrece e ameaça a todos. Para saber onde ela leva, basta entrar no túnel do tempo e ir até a Argentina em 2001-2002.

É algo impressionante e um tanto tétrico que praticamente todos os países que lograram sucessos ao tentar fugir do subdesenvolvimento o fizeram indo diretamente contra estes preceitos, que costumavam ser “do FMI” e agora são aparentemente globais. Coréia do Sul, China, Índia e até mesmo o Brasil só começaram a sair do ciclo vôo-de-galinha/crise fiscal/vôo-de-galinha quando investiram em produção estratégica, criação de classes consumidoras internas e controle de artimanhas financeiras. São exemplos que não são citados, ou aparecem apenas de forma parcial, pois a ortodoxia não admite alternativas.

Até mesmo a Alemanha, a potência que foi menos afetada pela crise, é editada para fora dos comentários e análises. A existência de uma potência industrial e educacional onde os salários são altos, o Estado presente e a loteria das Bolsas e Fundos é praticamente abolida não interessa aos fundamentalistas do Mercado Livre. Os países escandinavos, então, inexistem. Desenvolvimento, diz a ortodoxia, só com imposto zero, salário de prisioneiro chinês e liberdade total do setor financeiro para fazer os malabarismos que lhe aprouverem.

O pacote de ajuda à Irlanda, anunciado ontem, parece até uma pegadinha; pilhas de dinheiro para ajudar exatamente os agentes das altas finanças que detonaram e agravaram o colapso. Em troca, o país se compromete a apertar o contribuinte e os setores que de fato produzem renda e mercadorias, que nada tiveram a ver coma história. Insulto final, a recompensa prometida é mais dinheiro para os bancos...desde que eles possam provar que não precisam de dinheiro algum. Geralmente, atingir esse tipo de raciocínio requer grandes quantidades de ópio de uma qualidade invejável.

De certa forma, é uma revelação reconfortante; os espertalhões que nos quebraram tantas vezes no passado não tinham nada pessoal contra nós. Era just business, rapaziada. Quando paramos de morder a isca, eles passaram a aplicar os mesmos truques em seus conterrâneos americanos e europeus, sem rancor mas também sem piedade. Maquiaram títulos imobiliários podres como fundos AAA para Grécia, Reino Unido e Irlanda com a mesma eficiência que usaram para levar quase tudo que valia alguma coisa na América Latina em troca de junk bonds e empréstimos com juros extorsivos.

Não aparece, em lugar nenhum, qualquer menção de punir os responsáveis ou construir salvaguardas para evitar que esse tipo de bolha especulativa se repita. Aliás, o contrário é verdadeiro: bancos de ‘investimento’ como a Goldman Sachs receberam a fatia do leão do apoio e pagam bônus milionários aos seus executivos, enquanto o desemprego nos países afetados segue alto e perene. Da maior sequência de fraudes na história das finanças globais não irá resultar um único e solitário processo. O sofrimento do ajuste é reservado apenas para a população.

Faz sentido; só a dor ensina e redime, alguns dizem. Mas não tem que ser necessariamente a dor dos culpados, garantem os ortodoxos.

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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Pausa Cult : Donnie Darko

Fala-se muito sobre grandes filmes, e com razão. Mas e os grandes momentos perdidos em filmes medianos ou apenas bons?

Donnie Darko foi a primeira aventura de direção de Richard Kelly, um escritor de roteiros. Não foi um sucesso – ele teve que voltar a escrever para os filmes de outros por anos até ter outra chance. Mas apesar de dar prejuízo no lançamento, ganhou rapidamente uma platéia mundial que se identificou com a trama ilógica, a trilha sonora perfeitamente escolhida e os mindfucks do estilo. Trata-se, afinal da história de um adolescente perturbando, seu amigo (um coelho-demônio) e o fim do mundo.

Resultado: assim como os Engenheiros do Hawaii, Kelly passou a ser adorado por uma minoria entusiasmada e odiado visceralmente pelo resto do mundo ocidental. De qualquer forma, Donnie Darko vale ser assistido, nem que seja para que você finalmente escolha seu lado.

A cena de introdução da escola é, talvez, uma das mais belas da década que passou; um panning que alterna entre lento e rápido, da entrada do prédio até o pátio, namorando o cenário e os personagens da vida adolescente: o parasita valentão, os losers sem amigos pelos cantos, as rodinhas de colegas, a professora fanática por slogans baratos de auto-ajuda, a fofoca e as trocas de olhares do corpo docente, a doçura desajeitada das meninas treinando passos de dança. Tudo encaixado sem incidente na trilha sonora, com sincronia magistral. Exageros, sim (o delinqüente oficial dando cafungadas no meio do corredor? Drew Barrymore e seu vácuo cranial como professora de qualquer matéria?), mas deixemos os documentários para Michael Moore: quando se trata de ficção, muitas vezes a caricatura é o retrato mais honesto possível da realidade.

Agora a parte chata: falar mal. Os enólogos dizem que se você adicionar uma gota de vinho fino em um barril de merda você tem um barril de merda. Caso adicione uma gota de merda em um barril de vinho fino...você obtém um barril de merda. E existe uma gota de lodo na mistura de Donnie Darko que não pode ser negada, nem relevada.

Filmes são por definição meios autocontidos. A apresentação precisa dar ao espectador os instrumentos básicos para poder entrar na história de forma consciente: personagens, contexto, ritmo, definições. Donnie Darko escolhe não fazer isso; sem ler o site do filme e as longas explicações do diretor, uma parte central da história fica sem explicação, uma charada cuja resposta não faz sentido.

O roteiro, para ser entendido, depende de elementos que não apenas são exageradamente sutis – muitos dos elementos nem sequer estão nos 113 minutos do filme. É como vender um quebra-cabeças com 10% das peças faltando; não é mistério, é trapaça.

Pior: talvez essa muleta, a parte ruim, seja o verdadeiro Kelly. Seu filme mais recente, Southland Tales, é talvez a melhor comédia não-intencional já produzida: um tijolo de mais de duas horas de teorias conspiratórias, ideias fora de lugar e excesso de estilo com substância duvidosa, que precisam de um livro à parte para serem compreendidas e mesmo assim não convencem.

A grandeza às vezes é mero acidente.

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terça-feira, 19 de outubro de 2010

O Sistema é a Nova Crise

Na famosa obra de Stephen Sondheim Sweeney Todd, o jovem marinheiro Anthony suspira “Não há lugar como Londres!” quando vê a cidade pela primeira vez, deslumbrado com seu tamanho e riqueza. Meio segundo depois, o londrino Todd repete as mesmas palavras com um sentido totalmente diferente: para um connoiseur da ganância e do sofrimento humano, de fato Londres, o palco de todas suas desgraças, é um lugar ímpar.

A mesma reação vale para a “recuperação” do sistema financeiro. Os números das bolsas se recuperaram rapidamente após o crash, não devido a qualquer sanitização do mercado financeiro, mas por dois motivos: a monstruosa injeção de dinheiro público sem qualquer oversight ou exigências, e a certeza de que após a tempestade, as empresas e bancos restantes teriam ainda mais poder e menos rivais para manipular o mercado de ativos financeiros. Resumindo, apertou-se o botão de reset na crise. O sistema foi resgatado mas não reformado, e sua capacidade de gerar bolhas foi ampliada em vez de controlada.

Isto não é obra do acaso. Se o governo Bush estava abarrotado de lobistas da indústria petrolífera e de armamentos, a administração Obama tem registrado níveis recordes de presença de executivos de Wall Street. O power trio do controle da economia, formado for Timothy Geithner, Larry Summers e Henry Paulson veio diretamente da Goldman Sachs, uma das empresas-chave no agravamento da crise e , como não existe justiça no mundo, a que emerge dominante ao fim do terremoto, parcialmente graças ao serviço de seus (ex?) empregados no Fed e no governo.

Se existe uma recuperação, ela é inteiramente (e talvez propositalmente) divorciada da economia real. O nível de despreparo dos comentaristas econômicos, declarando o fim da crise assim que as Bolsas se recuperaram, seria hilário se não fosse apavorante. Resumindo: recebendo bilhões do governo a nada por cento de juros para investir nos fundos controlados pelo próprio setor, até eu, meu chapa. Agora, em cima de qual valor real ou produção estes ganhos estão sendo realizados é uma pergunta que apenas Chico Xavier pode responder, porque não se trata de nada deste mundo. Talvez do próximo.

Não que se possa culpar as agências financeiras por apostar neste possível mundo fictício: o real não dá muitos motivos para otimismo. Com sua base industrial esvaziada, níveis de desemprego de fazer inveja ao Brasil, endividamento privado estratosférico e milhões de hipotecas vencidas no setor imobiliário, além de uma infra-estrutura ruindo após décadas sem investimento, os Estados Unidos não oferecem as margens de lucro vultosas e rápidas que o vício de Wall Street exige.

De fato, o único ganho e real, e não menos cruel por causa disso, é a imensa apropriação imobiliária a ser realizada pelo setor financeiro coma execução de hipotecas. Uma década atrás, o próprio Alan Greenspan aconselhou a população a “utilizar a equidade de suas residências” para investir. Ou seja, hipotecar suas casas, cujo valor estava em alta, para obter dinheiro para investimentos ou mesmo viagens e consumo imediato. Era uma aposta duplamente irresponsável, pois implicava em acreditar que o valor dos imóveis subiria eternamente.

Após o estouro da bolha, com o valor dos imóveis no ralo e as hipotecas tornando-se impagáveis, milhões destas casas estão sendo e serão repossuídas pelas mesmas instituições que inflaram a bolha. Isso só não está acontecendo com maior rapidez porque as agências fracionaram e repassaram tantas vezes as hipotecas e títulos de dívida que nem elas sabem exatamente quem é dono de qual título. Mas elas se acertam em breve; são craques nisso.

Não há lugar como Wall Street!

Não há lugar como Wall Street.

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terça-feira, 7 de setembro de 2010

domingo, 29 de agosto de 2010

domingo, 22 de agosto de 2010

Resenha : A Origem

Existem certas experiências que, apesar de cobrirem um amplo espectro, sâo únicas: Assistir Muhammad Ali lutar na segunda metade da década de 60, ver Nadia Comaneci flutuar entre as barras, ouvir ao vivo um solo de David Morse. Não importa se você é um fã ou não; você está vendo um dos melhores do mundo fazendo o que sabe melhor, no auge. É talvez o momento em que chegamos mais perto do místico, fora baboseiras esotéricas feitas para pegar trouxas.

A Origem coloca o diretor Chritopher Nolan nesse patamar, com sobras. Talvez a afirmação de que ele dirigiu outros grandes filmes como 'O Grande Truque' e 'Cavaleiro das Trevas' apenas para ganhar experiência com o propósito de fazer este seja um blefe ou exagero, não sei. Mas a narrativa enxutíssima, a criatividade e a tensão dramática que ele gerou ao escrever e dirigir o filme dão razão ao boato.

Nolan conseguiu fazer um fime inteligentíssimo sem cair nas armadilhas que aleijam tantos filmes-cabeça. A Origem limpa a bunda com a série Matrix dos irmãos Wachowski no tocante a brincar com o conceito de realidade e sonho compartilhado. Esgotados os efeitos especias do primeiro filme, Matrix nunca passou de uma metáfora de Jesus Cristo mais fashion travestida com um película de filosofia oriental tão rasa que um piolho atravessara sem molhar as canelas.

Como nos clássicos Philip K. Dick, o escritor cujas obras mais são roubadas sem crédito por Hollywood, o universo ficcional de A Origem é quase idêntico ao nosso, exceto por um detalhe: é um mundo onde agentes treinados sabem entrar nos sonhos alheios, gerando um perigoso e próspero campo para espionagem industrial onde ladrões roubam ideias e projetos dos Steve Jobs da vida. Dom Cobbs (Leonardo Dicaprio, fazendo pós em filmes sobre conflito de realidade após Ilha do Medo) é um dos melhores do ramo, após uma tragédia pessoal acabar com sua carreira como arquiteto de sonhos. Para sua missão final que pode redimir sua vida e reuni-lo com sua família, ele embarca em uma última e perigosíssima missão de implantar uma idéia da mente de um magnata em vez de extrair informações.


O cenário permite ao diretor usar as camadas de sonho para brincar com os conceitos de realidade e consciência, e Nolan explora o recurso com maestria. Sempre que os personagens dormem dentro do sonho, eles afundam mais uma camada no subconsciente do alvo, mais instável e perigosa, onde o tempo se dilata e as apostas aumentam, com elementos do subconsciente de cada um 'vazando' para complicar as coisas.

Durante boa parte do filme, a narrativa acontece em três ou quatro planos simultâneos, correspondendo a níveis do sonho, em um ato de malabarismo cinematográfico realizado sem uma tremida ou escorregão sequer. É um filme de ação que não fica bobo (a cena de luta no hotel na qual a gravidade não fica 5 segundos apontando para o mesmo lado é brilhante) e um filme metafísico que não vira punheta existencialista.

Resumindo; largue o que você estiver fazendo, mesmo que seja um tratamento de canal, e vá assistir A Origem. O sucesso de filmes como esse não eleva apenas os criadores e elenco; mas sim a nós, o público. Em nossa época na qual os estúdios decidiram que a ferramenta para manter o público pagando nos cinemas se resume a óculos 3D, vale lembrar que cinema é sonho, e que os sonhos mais mirabolantes e criativos sempre levarão vantagem sobre truques de marketing.
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sábado, 10 de julho de 2010

Na Flórida

O passado é uma coisa estranha, por que a intensidade das memórias é geralmente mais forte que o tempo; momentos de felicidade extrema ou angústia lancinante sempre aconteceram ontem, mesmo qe a data no calendário seja de 15 anos atrás.

Em parte por causa disso, resolvi dar uma chance a uma esperança de anos atrás; estou escrevendo de Inverness, Flórida, onde minha ex-namorada americana mora. Depois de conversar um bocado, decidimos dar uma chance ao improvável e passar um mês juntos para ver se a química ainda existe.

Hoje faz duas semanas desde que cheguei e apesar de alguns momentos bizarros, tudo tem sido tão excelente que dá até pra suspeitar. Vou escrever mais a respeito aqui no blog.

Abraço a todos. As saudades já estão doendo, acreditem.
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segunda-feira, 14 de junho de 2010

Pergunta...

Quem dirige pior: os motoristas com o adesivo do rosário na traseira do carro, ou os que colocam aquele ímã do peixe evangélico?
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terça-feira, 8 de junho de 2010

Diplomacia no Oriente médio: É uma cilada, Bino!

Uma parte vital e, quando lida nos livros de História, divertida da transição de Zé Ninguém Global para Potência Emergente é meter a colher na sopa dos outros. Arbitrar disputas, negociar conflitos, engolir um território aqui e ali, abrir mercados estrangeiros à força, etc. e tal.

O Brasil sempre teve a ilusão, quanto País do Futuro, de que quando tivesse sua vez sob os holofotes as coisas seriam diferentes: nossa não seria a projeção mesquinha de embargos, guerras, negociatas e intrigas étnicas, religiosas e financeiras dos outros países. Apenas ganharíamos o palco, com nossa malandragem mansa, e cativaríamos a todos com a nossa faceirice.

A realidade não demorou a lançar um tijolo na nossa testa. Quando se trata de grana e território, países não perdem tempo com licores e charutos. O que importa são definições: amigo ou inimigo, contra ou a favor, sérvio ou bósnio, judeu ou muçulmano.

Por este motivo a excursão diplomática brasileira para o Oriente Médio já me causou calafrios de véspera. Se existe uma região do globo onde os perigos são catastróficos e as recompensas meramente simbólicas, é esta.

Ninguém fica neutro por muito tempo no Oriente Médio. A própria palavra ganha um ar tragicômico. Um bom exemplo foi uma das ‘gafes’ de Lula em Israel, ao recusar a visita ao túmulo do fundador do sionismo que foi subitamente inclusa em seu itinerário. Por muito pouco, o país inteiro não escolhe um lado, sem saber, em um dos conflitos mais longevos e deprimentes da atualidade. Um passeio mal-escolhido, e milhões passam a cuspir à menção do seu nome, inimigos eternos. Exagero? Lembrem que bastou a caminhada de Ariel Sharon (com 1100 guarda-costas) pelo Monte do Templo em setembro de 2000 para detonar uma nova Intifada. Nesta terra, os atos mais letais muitas vezes são simbólicos.

Esse poder que o passado e o simbólico exercem não é algo que nós podemos entender facilmente. Uma das poucas verdadeiras vantagens (para o bem e para o mal) que a índole brasileira possui sobre as demais é a nossa falta de paciência e memória quanto aos conflitos do passado. Não temos minorias furiosas devido à derrota da Balaiada ou da Revolta Integralista, décadas ou séculos atrás. Até nos EUA a questão da Guerra civil, velha de 150 anos, ainda gera atritos. Todo ano, dezenas de milhares de caipiras armados, os clássicos rednecks, “re-encenam” as batalhas onde o Exército Confederado vence e salva racistas e latifundiários da modernidade tão chata que se seguiu no mundo real.

Os resultados da negociação e do acordo requerem estabilidade e contexto. Mas quando se trata de Oriente Médio, a única certeza é a de que algo sempre vai acontecer para chutar o tabuleiro de xadrez para o alto e espalhar as peças, tornando a conjuntura anterior obsoleta e todos os acordos e avanços feitos em cima dela nulos. Foi assim com a invasão israelense no Líbano atrás do Hezbollah (que terminou em um azedo empate), com o isolamento de Gaza em um semi-gueto, com as revoltas populares na eleição iraniana, com o nosso acordo nuclear e agora novamente com o ataque na flotilha. É como querer construir um barco no meio de um redemoinho.

Voltando ao principal: a diplomacia brasileira é de um talento e profissionalismo que, em um mundo mais justo, faria do Itamaraty, e não da seleção brasileira de futebol, nosso orgulho coletivo perante o mundo. Confio em nossos diplomatas até para dar nó em um pingo d’água em plena queda, no meio de uma cachoeira. Mas existem lugares e temas menos impossíveis e com benefícios maior para o Brasil do que o ódio e tribalismo do Oriente Médio. Podem não render capas de revistas e manchetes ao redor do mundo, mas quem é esperto não quer esse tipo de atenção.

Sigam a lição da Suécia e da Dinamarca, colegas: cuidem dos seus, prosperem e vivam bem, sem dar muito na vista. Se os outros quiserem seguir o exemplo, melhor; caso contrário ,eles escolherão alguém mais visível para brigar.

A definição de um player no campo global pode ser resumida a um país capaz de criar fatos que as demais nações são forçadas e enfrentar de maneira negociada. Sob esta ótica, já chegamos lá; o departamento de Estado americano estava dando os retoques finais em um pacote –monstro de sanções, um projeto que vinha tomando mais de um ano de Hillary Clinton, e teve que parar tudo para lidar com essa iniciativa insolente Irã-Brasil-Turquia.

Agora falta escolhermos melhor nossas batalhas.
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segunda-feira, 7 de junho de 2010

quinta-feira, 27 de maio de 2010

segunda-feira, 17 de maio de 2010

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Resenha : Crossed

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Há tempos eu queria começar uma seção de resenhas de livros aqui no GardenBlog. Estava esperando acabar o tijolo Nixonland para fazer a primeira, mas por motivos de força maior, os planos foram alterados. Antes disso, vamos falar da série Crossed (Cruzados), escrita pelo lendário Garth Ennis e ilustrada por Jacen Burrows.

Antes de tudo, um aviso. Crossed é de uma violência inédita. Sem brincadeira. Este que vos escreve assistiu Robocop e A Mosca antes de completar o oitavo aniversário (o que não me impediu de virar um adulto saudável, descontando-se alguns incidentes facilmente medicados) e mesmo assim ficou tentado a largar a revista e ir tomar um longo banho pelo menos duas vezes. É o conteúdo mais forte que eu já vi, perdendo apenas para 120 dias de Sodoma, do Marquês de Sade (engraçado que o campeão eterno da crueldade já tenha quase 200 anos. A vileza humana é tudo menos recente).

A premissa da série parte do mesmo ponto de um porrilhão de filmes e livros de terror: um grupo de sobreviventes, uma catástrofe que acabou com a Vida Como A Conhecemos(tm), e hordas uivantes de monstros lunáticos cujas intenções em relação aos protagonistas fazem Jogos Mortais parecer um filme de natal.

Até aí, nada de novo, mas existem duas diferenças importantes que elevam a obra além do seu começo pedestre. Uma é o grau: Ennis pega a idéia acima e, como dizem no clássico Spinal Tap, leva até o volume 11. Tudo é levado ao extremo: a depravação dos antagonistas, o desespero dos personagens e a desumanidade das escolhas a serem feitas. Todos nós temos, em algum lugar na nossa mente, uma pequena voz que passa um veto executivo, todo dia e todo minuto, em nossos pensamentos mais doentes e perigosos. O que o autor propões é simples. O que aconteceria se, de um dia para o outro, essa voz sumisse em 90% da humanidade?

Para Garth Ennis, algo assim:


Fosse apenas isso, seria apenas uma obra menor que primeiro choca e depois entedia. Mas aqui, os extremos servem de pano de fundo para uma trama com diversos momentos que são, poderosa e surpreendentemente, tocantes e delicados. O que une as pessoas? A que ponto estamos prontos a ir para sobreviver? O crime mais cruel e proibido possível pode virar um gesto de compaixão? É possível que um gesto humano e gentil seja a coisa mais impiedosa e terrível que pode ser infligido a uma pessoa?

As histórias de Ennis seguem primariamente dois temas: um é o significado de ser uma pessoa decente em um mundo cão (e as escolhas que devem ser feitas para preservar essa decência). O outro é a violência adolescente pura e na veia, sem desculpas nem meios termos. Crossed é talvez a fusão mais perfeita entre as duas vertentes, e elas se potencializam mutuamente em vez de causar interferência uma na outra, como seria de se esperar.

Enfim, não quero estragar a história, para os que pretendem lê-la. Os personagems são sólidos, a narrativa tem um toque inexorável que faz virar cada página algo apavorante e obrigatório, e a arte é limpa e detalhada (os dois painéis finais da edição 5 são talvez a cena mais bela que eu vi recentemente em qualquer quadrinho).

No fim do dia, existem centenas de boas razões para evitar ler Crossed, e apenas um punhado para separar uma tarde e devorar a série (9 edições) do começo ao fim. Mas são razões maiores e melhores.

P.S. - Ah, um filme baseado na série está sendo produzido. Sem brincadeira.
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sábado, 1 de maio de 2010

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Prêmio WTF 2010

Deu na Folha:

"O líder da oposição conservadora polonesa, Jaroslaw Kaczynski, anunciou nesta segunda-feira que se apresentará às eleições polonesas de 20 de junho, convocada para designar o sucessor de seu irmão gêmeo, Lech Kaczynski, falecido em um acidente de avião na Rússia no último dia 10."

Não será surpresa para quem leu meu post sobre o assunto. Fiquem alertas para o aparecimento de um cavanhaque. Ou talvez um gato branco.

Que mundo bizarro.
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sexta-feira, 23 de abril de 2010

Blues da eleição

Ser brasileiro é fundamentalmente nascer privado de algo vital, alguma coisa difícil de definir mas importante especialmente por sua ausência. É como receber de herança uma mansão em outra cidade e, ao chegar lá, descobrir que uma enchente varreu a casa do mapa e deixou apenas um terreno elameado: você nunca viu e de fato, nem teve a mansão, não sabe o que perdeu mas sabe que, como sempre no seu caso, deu merda.

Mesmo comparando com os outros países das Américas, a nossa identidade nacional não tem pegada. A cidadania brasileira é uma condição temporária, esperamos, para ser sutilmente deixada de lado até descobrirmos uma descendência mais interessante (italiana, espanhola, inglesa, etc.) ou nos tornarmos ricos, que são os verdadeiros cidadãos do mundo e podem escolher uma cultura por semana para imitar.

Tudo isso tem um motivo, claro. O Brasil exige pouco diretamente de cada um de nós. Não nos envia recrutados à força para guerras de conquista. Não confisca nosso rico dinheirinho para fazer palácios de ditador iraquiano. Não condena minorias étnicas a serem cidadãos de segunda classe. Não faz nada de muito dramático: é um marido ausente, sempre no bar, que aparece de vez em quando para um chamego e levar o dinheiro da sinuca, mas não o que estapeia a cara-metade nem rouba as jóias da família.

Por outro lado, nós também não exigimos muito dele. Não insistimos em receber um nível e qualidade de serviços públicos à altura dos impostos que pagamos; preferimos ficar miando e querendo não pagar imposto algum, uma alternativa válida mas notóriamente preguiçosa. Cada brasileiro pode apontar para um mapa e em segundos apontar pelo menos 60% do país que, a seu ver, não contribui em nada e nunca vai fazê-lo, meros sanguessugas (ao contrário do seu próprio e augusto empreendedorismo). O separatismo só não é um problema aqui graças, em grande parte, à nossa preguiça. Quando não se pode cancelar defeitos com virtudes, defeitos podem anular defeitos, felizmente.

Nossa relação com a democracia é o melhor exemplo. Ela é inconstante e possui expectativas baixíssimas. A cada quatro anos somos chamados às urnas para salvar o mundo (pois certamente uma vitória do oponente vai precipitar um cataclisma que fará o filme-catástrofe 2012 parecer um conto de natal), e um mês depois já estamos perfeitamente desligados do nosso destino político. Caso nosso lado vença, esquecemos da política pois sabemos que ela está em mãos que podem não ser boas, mas são aceitáveis. Caso o outro vença, melhor nem acompanhar para não ficar frustrado e esperar um escândalo para pedir, por tabela, impeachments e afins.

Faz sentido: o amor pela democracia é, no final das contas, um amor à sistemas. E quem consegue se empolgar por algo tão frio e sem vida? (Exceto, claro, nosso amigos contadores). Sem uma identificação profunda do indivíduo com o sistema, isso é impossível. É como sortear um time de críquete da dinarmarca e pedir para um carioca torcer por ele com a mesma paixão que dedica ao Flamengo.

O problema, portanto, é o sistema. As engrenagens de um país não podem, por definição, ser neutras. Elas giram em favor de alguém e usam a energia fornecida por outro alguém. Não existe nada mais perigoso ou complicado do que mudar ou reformar o sistema, como Niccoló Maquiavel já definiu: os seus defensores estão sempre em posições de poder, se beneficiando dele ao longo de gerações, e os beneficiados pela mudança são sempre fracos e desorganizados. É uma equação que tende à estagnação. Felizmente, a raça humana exige, de tempos em tempos, momentos de ruptura. Quando as instituições caducam, resetamos os sitema por bem ou por mal, e de vez em quando, o que aparece é algo...admirável.

Essa é a reforma que mais precisamos no Brasil: uma consciência de propósito, um projeto de país que todos, nos escritórios da Faria lima até os vilarejos do Acre (caso este exista de fato) possam reconhecer, senão apoiar. Todas as outras só virão como consequência. Países não se desenvolvem graças a heróis e presidentes: crescem e melhoram apesar deles.

Quando nos olharmos no espelho, dermos um par de tapas em nossas próprias caras e trabalharmos para melhorar processos e valorizar nosso passe, quando pudermos dizer que vamos crescer sempre, pouco importanto o presidente ser de direita ou esquerda, analfabeto ou PhD, santo ou demônio, deixaremos de ser o eterno país do futuro e iremos merecer o presente.

O que for da vida não nos deterá.
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quarta-feira, 14 de abril de 2010

Só para geeks



Bento XVI consulta o Dungeon Master Guide?

A tabela de Saving throws está na página 101, Santidade.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Tudo explicado


Finalmente ficou óbvia a causa do terrível acidente aéreo que eliminou quase toda a liderança do governo polonês. O presidente Lech Kaczynski tinha, como visto na foto acima, um irmão gêmeo.

Como todos sabemos, nestes casos existe sempre um Gêmeo Bom e um Gêmeo Mau. Presumivelmente, o Gêmeo Mau orquestrou o acidente para poder roubar a carreira, a reputação e o grande amor da vida do Gêmeo Bom, como também é de praxe.

Fiquem atentos. Caso o irmão sobrevivente deixer crescer um cavanhaque, saberemos com certeza. E descobriremos que vivemos em um novela das 7.

Encontrar Alguém

Eu já tive a sorte de encontrar a mulher da minha vida umas duas ou três vezes. O azar é o fato de que ela geralmente já é a mulher da vida de alguém mais, que a encontrou primeiro, desgraçado.

No momento, eu tenho duas alternativas. Uma é impossível e a outra é complicada. Não que existam escolhas fáceis quando o assunto é este, mas cada uma das alternativas envolve uma renúncia muito grande, que pode envolver carreira, amigos e passado. É uma escolha que tem que ser feita, antes que a vida o faça no seu lugar, geralmente com resultados muito, muito piores.

Gostar de alguém é fácil. A grande questão, que poucos realmente percebem, é quando gostar da pessoa X faz você, em consequência, gostar mais de si mesmo, ser mais e melhor em função do outro e da sua vida em comum.

Me assusta, às vezes, perceber como meus amigos levam a vida emocional no piloto automático. Estar com alguém parece ter a frieza prática de montar um time de futebol de salão quando falta gente. "Precisa de cinco...chama qualquer um aí!". Vão de relacionamento em relacionamento, todos idênticos ou quase, que começam e acabam pelos mesmos motivos, até se cansarem do jogo e adotarem um solteirismo diplomático, alcançarem uma Suíça neutra do relacionamento humano.

Não tenho, claro, cacife para julgar ninguém. No amor os únicos critérios que valem alguma coisa são a longevidade e (mais importante) a felicidade. Quando eu alcançar um ou ambos eu volto ao tema para contar vantagem.

domingo, 11 de abril de 2010

A Prova Final




Quando olharmos para trás, vinte ou trinta anos no futuro, poderemos dizer aos nossos filhos e amigos que testemunhamos um evento único: o desabamento de uma instituição de dois mil anos.

O escândalo eterno dos abusos sexuais de menores por padres achou uma forma de piorar: A AP encontrou um documento onde o próprio Ratzinger, futuro Bento XVI, tira um sacerdote estuprador do gancho. O padre em questão amarrava e violentava crianças entre 11 e 13 anos, e durante anos os bispos de sua dioceses tentaram expulsá-lo. O Vaticano sempre intervinha em favor do criminoso em conta de sua idade jovem (38 anos na época).

O documento é assinado e comentado a fundo pelo próprio Ratzinger, que pesa os eventos e escolhe um lado (dica: não o das crianças). Não há defesa ou argumento possível nesse ponto.

A questão agora é: o que fazer? A Igreja segue afirmando que é tudo invenção da imprensa que de repente acordou anti-católica. Não pode entregar a cabeça dos envolvidos nem do papa (mesmo que quisesse) pois sabe que isso enfraqueceria ainda mais seus quadros e seu status.

Que fique claro: é apenas o seu status religioso e a reverêmcia indevida que os governos tem por ele que impedem que Bento XVI seja algemado assim que pisar fora do Vaticano. A Igreja não vai puni-lo (o único órgão da Igreja que tem o poder de destituir papas é escolhido pelo próprio).

Um pouco de futurologia, então: Ratzinger é um homem idoso. Em alguns anos descobrirá em pessoa se sua religião é a certa, indo para o além-vida. Seu sucessor fará alguns pronunciamentos neutros onde cita o problema de forma sutil, sem tomar quaisquer medidas reais.

E a reputação da Igreja Católica vai morrer lentamente ferida por mil pequenos cortes. Pais irão impedir que filhos sigam a carreira sacerdotal por saberem dos eventos que ocorreram. A palavra Igreja será sinônimo de abuso sexual e pessoas desajustadas (da mesma forma que "prisão"), e motivo de piadas sacanas. A idade média dos padres, atualmente no patamar "Dercy Gonçalvez", vai subir para "Oscar Niemeyer".

A perda é o trabalho assitencial que a Igreja Católica de fato raliza em diversos países, e as pessoas que dele dependem. Bizarro ao extremo que os dirigentes da Sé coloquem isso em risco em nome da devoção ao poder, à rigidez hierárquica e da proteção aos que abusam dos poucos inocentes de verdade que existem nesse mundo, as crianças.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Eu não entendo

"O mundo é um circo, se você souber enxergar. O jeito que o Sol desce quando você está cansado e sobe de novo quando quando você quer se mexer. Isso é magia de verdade. O crescer de uma folhar, o cantar dos pássaro, a imagem do deserto à noite sob o abraço da lua.

Ah, meu garoto, isso é circo o bastante para qualquer um. Toda vez que você vê um arco-íris e sente o espanto no seu coração, ou pega um punhado de poeira e vê não o pó mas um mistério, uma maravilha ali na sua mão.

Sempre que você pára e pensa 'Eu estou vivo, e viver é fantástico'. Sempre que isso acontece, você é parte do circo".

As sete faces do Dr. Lao, 1964

sábado, 27 de março de 2010

Uma Igreja de Imoralidades




O Carma instantâneo vai te pegar

Vai te acertar bem no meio da cabeça

É raro ver um caso de carma instantâneo, para saquear uma frase de John Lennon, especialmente um tão óbvio e (para os inclinados a ver a coisa desta forma) saboroso como o do Papa Bento XVI.

Veio a público a revelação de que quando ainda era "apenas" um arcebispo, Ratzinger abafou um grotesco caso de abuso no qual um sacerdote abusou de mais de 200 crianças. As comunicações internas do período revelam que outras autoridades até tinham conflitos sobre o que fazer, mas não o nosso amigo Ratzi: ele queria o tema enterrado e Igreja protegida, e fechou o punho na mesa até conseguir.

Nada mais justo portanto, que esteja no leme agora que a crise está estourando. A ideia do Papa sempre foi tornar a Igreja católica menor e mais devota, descartando alguns dos fiéis que só pisam na igreja em dia de bingo ou casamento. Pelo menos na questão da redução de números, já se pode prever que seu mandato será um grande sucesso.

É importante que uma coisa fique clara ao se discutir este assunto. O número de padres que de fato abusaram de crianças é relativamente pequeno: cerca de 4% segundo alguns estudos. Estes crimes forma de responsabilidade individual de cada sacerdote envolvido.

Mas a decisão de abafar e acobertar os incidentes, de mudar os padres de paróquia para que seguissem abusando e estuprando menores e evadindo os acusados da justiça é institucional, e transforma, sim, toda a Igreja em uma fria cúmplice de algo horrível. Isso não foi um acidente ou um deslize, mas um cálculo premeditado, uma aposta que, vemos agora, deu errado.

O escândalo também mostra com a religião ganha um tratamento privilegiado sobre os demais segmentos da sociedade. Se um banco ou escola estivesse escondendo os crimes sexuais de seus integrantes e enviando-os para fora do alcance da lei, não sobreviveria uma semana; a fúria popular e da imprensa não deixaria pedra sobre pedra. Aliás, nem é preciso supor: basta lembrar o caso da Escola Base, na qual pessoas acusadas injustamente de pedofilia tiveram suas vidas devastadas de forma irrecuperável. Mas neste caso, a sociedade segue garantindo o benefício da dúvida, sem qualquer bom motivo para tanto.

Existe um motivo pelo qual crime como o caso da menina Isabela chocam mais do que as tragédias 'normais', no qual um estranho comete a violência. Quando um pai, um parente, um professor é o ator da maldade, ele rompe também um laço de confiança básica que ancora a sociedade. Se não se pode esperar que um suposto representante de deus fique com a mão fora das cuequinhas dos meninos dos quais deveria cuidar, o que garante que qualquer outra instituição funcione?

Que ninguém se engane: outros escândalos virão, e a oportunidade de enfrentá-los de uma forma honesta e responsável, que talvez resgatasse um pouco de dignidade tanto da Igreja como de suas vítimas, já foi perdida. E Bento XVI, que tanto queria colocar sua fé em um patamar acima das igrejas evangélicas, seitas orientais e sincretismos da moda, viverá apenas para ver sua obra pichar a fachada de cada catedral do mundo por uma geração, provavelmente mais.

Certamente é trágico. Mas também é justo.