quinta-feira, 27 de maio de 2010

segunda-feira, 17 de maio de 2010

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Resenha : Crossed

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Há tempos eu queria começar uma seção de resenhas de livros aqui no GardenBlog. Estava esperando acabar o tijolo Nixonland para fazer a primeira, mas por motivos de força maior, os planos foram alterados. Antes disso, vamos falar da série Crossed (Cruzados), escrita pelo lendário Garth Ennis e ilustrada por Jacen Burrows.

Antes de tudo, um aviso. Crossed é de uma violência inédita. Sem brincadeira. Este que vos escreve assistiu Robocop e A Mosca antes de completar o oitavo aniversário (o que não me impediu de virar um adulto saudável, descontando-se alguns incidentes facilmente medicados) e mesmo assim ficou tentado a largar a revista e ir tomar um longo banho pelo menos duas vezes. É o conteúdo mais forte que eu já vi, perdendo apenas para 120 dias de Sodoma, do Marquês de Sade (engraçado que o campeão eterno da crueldade já tenha quase 200 anos. A vileza humana é tudo menos recente).

A premissa da série parte do mesmo ponto de um porrilhão de filmes e livros de terror: um grupo de sobreviventes, uma catástrofe que acabou com a Vida Como A Conhecemos(tm), e hordas uivantes de monstros lunáticos cujas intenções em relação aos protagonistas fazem Jogos Mortais parecer um filme de natal.

Até aí, nada de novo, mas existem duas diferenças importantes que elevam a obra além do seu começo pedestre. Uma é o grau: Ennis pega a idéia acima e, como dizem no clássico Spinal Tap, leva até o volume 11. Tudo é levado ao extremo: a depravação dos antagonistas, o desespero dos personagens e a desumanidade das escolhas a serem feitas. Todos nós temos, em algum lugar na nossa mente, uma pequena voz que passa um veto executivo, todo dia e todo minuto, em nossos pensamentos mais doentes e perigosos. O que o autor propões é simples. O que aconteceria se, de um dia para o outro, essa voz sumisse em 90% da humanidade?

Para Garth Ennis, algo assim:


Fosse apenas isso, seria apenas uma obra menor que primeiro choca e depois entedia. Mas aqui, os extremos servem de pano de fundo para uma trama com diversos momentos que são, poderosa e surpreendentemente, tocantes e delicados. O que une as pessoas? A que ponto estamos prontos a ir para sobreviver? O crime mais cruel e proibido possível pode virar um gesto de compaixão? É possível que um gesto humano e gentil seja a coisa mais impiedosa e terrível que pode ser infligido a uma pessoa?

As histórias de Ennis seguem primariamente dois temas: um é o significado de ser uma pessoa decente em um mundo cão (e as escolhas que devem ser feitas para preservar essa decência). O outro é a violência adolescente pura e na veia, sem desculpas nem meios termos. Crossed é talvez a fusão mais perfeita entre as duas vertentes, e elas se potencializam mutuamente em vez de causar interferência uma na outra, como seria de se esperar.

Enfim, não quero estragar a história, para os que pretendem lê-la. Os personagems são sólidos, a narrativa tem um toque inexorável que faz virar cada página algo apavorante e obrigatório, e a arte é limpa e detalhada (os dois painéis finais da edição 5 são talvez a cena mais bela que eu vi recentemente em qualquer quadrinho).

No fim do dia, existem centenas de boas razões para evitar ler Crossed, e apenas um punhado para separar uma tarde e devorar a série (9 edições) do começo ao fim. Mas são razões maiores e melhores.

P.S. - Ah, um filme baseado na série está sendo produzido. Sem brincadeira.
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sábado, 1 de maio de 2010