segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Não Valeu a Pena

Hoje morreu Frank Buckles, o último veterano do ocidente que participou da Primeira Guerra Mundial. Viveu até os 110 anos, certamente muito mais do que o próprio imaginou completar durante sua participação no conflito.

Embora Hollywood prefira lembrar a Segunda Guerra, por diversos motivos (vilões claros, batalhas mais movimentadas, propósito claro), a Primeira foi, sim, mais importante. Ela aniquilou o mundo que exisita antes de 1914 completamente. A Segunda guerra apenas confirmou o status global gerado pela anterior, a um preço temível.

A Primeira Guerra também tem mais lições, que estão sendo perdidas na medida em que seus veteranos se vão. Para nós (pós) pós-modernos, o conceito de milhões de jovens marchando voluntariamente para trincheiras repletas de morte, tifo e loucura por motivos totalmente nebulosos parece sandice. E não foram só eles. Na Inglaterra, mulheres davam penas brancas para os homens abaixo de 40 anos que não estivessem de uniforme, como forma de constrangê-los ao alistamento. A sociedade inteira estava culturalmente unida com o propósito de atirar sua juventude no abatedouro, em nome de antiga rivalidades étnicas, orgulhos nacionalistas caducos, um quintal maior para o Kaiser ou a Terceira República.

Quando falamos em termos dos jovens de ontem versus os de hoje, o tom geralmente favorece nosso avós e bisavós, que trabalhavam mais, viviam melhor, tinham casamentos mais sólidos, iam para a escola a pé encarando neve e ladeiras na ida e na volta, etc. Em certa parte isso é verdade, mas existe também um certo nível de idealização do passado e das gerações antigas torcendo o braço para dar tapinhas nas próprias costas.

Nesse quesito, no entanto, nossa geração leva a vantagem. Podemos ser fúteis, emos, twitteiros, mas não somos ovelhas. Acredit que se amanhã o país fosse invadido, não faltariam voluntários para defendê-lo. Mas se o governo anunciasse que por quaisquer cargas d'água 400 mil de nós teriam que ir morrer invadindo a Argentina ou o Irã, os poucos que participariam iriam por dever (por já estarem alsitados) ou por ambição. Somos cínicos na hora de gastar nossas vidas, e isso não é um defeito.

Meu bisavô lutou na Primeira Guerra. Como todo italiano qe se preze, foi um desastre como soldado; foi capturado pelos alemães quando sua unidade de artilharia foi flanqueada (as tropas que deviam protegê-lo contaram quantas pernas tinham e fugiram usando todas). Passou o resto do conflito em um gélido campo-prisão, sendo comido vivo por pulgas e percevejos e vendo os amigos morrerem de pneumonia. Quando contava histórias de guerra ao resto da família, geralmente falava de casos engraçados. Talvez exagerasse sua patetice. Com certeza era melhor do que falar de meses a fio debaixo da terra, sem nem ver o inimigo mas sendo explodido por atilharia, cruzando arame farpado na mira de metralhadoras para ganhar terreno sem importância que seria perdido na semana seguinte.

E por que ees lutaram? Liberdade? quase todos osregimes da época não seriam considerados democracias atualmente. Contra algum pré-Hitler? Nenhum do beligerantes era perceptivelmente mais hegemônico ou desumano que os demais. Pelos seus países? Nenhum estava em perigo existencial por nenhum motivo que não fosse a própria guerra.

Meu bisavô talvez tenha definido da melhor forma, falando com meu pai: "Não sei por que foi que lutamos. Mas sei que, o que que que tenha sido, não valeu a pena."
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